7 de abril de 2008

Cooperativismo e caatinga na sala de aula - Parte II

Relato do geógrafo Vinícius Madazio, que também coordenou oficinas do projeto Caju e Mel – formando mais de 300 educadores da rede pública de Teresina, Picos e Oeiras (PI) utilizando temas como cooperativismo, bioma da Caatinga e geração de renda:

“Meu trabalho nas oficinas do projeto Caju e Mel foi desenvolvido com professores de Oeiras e Picos, no interior do Piauí. Foi minha primeira vez no Estado e, com isso, a curiosidade pré-chegada era muito grande. O comandante do avião anunciava antes do pouso:

- São pouco mais de 20 minutos para as 23h e estamos nos preparando para a aterrissagem... Teresina apresenta tempo estável, com temperatura de 27 °C.

Imaginei, perplexo: 27 °C às onze da noite? Acho que sentirei calor por aqui! Mas os professores de Oeiras e Picos, no interior do Estado me contaram que se quisesse sentir calor mesmo, deveria retornar nos meses terminados com BRO - setembro, outubro e novembro! Somente em contato com a realidade local é que nós, de outra realidade, temos acesso a esse tipo de informação...

Em Oeiras, uma cidade histórica no sertão piauiense, tivemos a ilustre presença do ‘Preto’, o sr. Francisco (na foto, mostrando um pé de maracujá), que é um cajucultor e líder do assentamento Marambaia, a sete quilômetros do Centro. Há pouco mais de cinco anos, ele trabalhava como gari na cidade, e retornou ao campo para viver da terra. Sua participação foi muito importante para o contexto da oficinas, já que é um exemplo de força, perseverança e fé na potencialidade do semi-árido, e foi muito prazeiroso fazer uma visita técnica a seu assentamento.

Os participantes também visitaram, durante as oficinas, uma das cinco escolas técnicas rurais mantidas pelo trabalho do Padre João e irmã Elenice Atanázio. Baseada na ‘pedagogia da alternância’, na qual os alunos passam quinze dias na escola, retornando para as suas residências nos quinze dias subseqüentes, a escola rural propicia que os alunos apliquem seus conhecimentos na produção de suas famílias, valorizando o que têm, e vislumbrando a possibilidade de permanecer na região, com seus próximos.

Sem querer ser um geógrafo coorporativista, nada melhor do que os estudos de campo para materializar muitas das idéias desenvolvidas durante as discussões teóricas das oficinas.

Pessoalmente, para mim, o Piauí mostrou-se como um exemplo de Estado brasileiro economicamente ‘pobre’, mas social, cultural e ecologicamente ‘muito rico’. Só tenho a agradecer aos professores piauienses! Muito obrigado pela oportunidade!

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